Minha família nunca foi do tipo
religiosa. Na verdade, lembro bem de aos sete, oitos anos, escutar minha mãe
dizer que não acreditava em Deus. Com menos de uma década, eu não entendia que
aquilo era só uma forma de demonstrar sua raiva para o mundo, pela morte
repentina de seu pai. Levei aquelas palavras comigo por um tempo. Era criança e
se minha mãe não acreditava em Deus, bom... “God Who?” Mais ou menos na mesma
época (o que não precisa significar o mesmo ano e idade) – preciso explicar um dia que minha forma de
contar épocas é pelas casas que morei – eu e meu pai tivemos uma visita “diferente”.
Não o vimos, só sentimos seu cheiro. Lembro de não ter duvidado do que (e de
quem) era em nenhum momento.
E por que estou falando isso,
Hans? Por que eu “não acreditava em Deus” na minha forma de criança que leva as
coisas ao pé da letra, mas acreditava em espíritos e vida depois da morte. As
duas coisas eram reais para mim. Claro que eu cresci, e em algum momento
confrontei minha mãe sobre sua não crença em Deus, e ela perguntou de onde eu
havia tirado aquela ideia. Acho que entendi muitas coisas naquele dia. Falamos
muito, Hans. E acreditamos em muitas outras coisas. E aquilo é real? Sim.
Enquanto acreditamos, aquilo se torna a nossa realidade. Mas mudamos, entende?
Ainda bem, concordo, mas isso tem me ocupado os pensamentos ultimamente. Até
que ponto ainda mudaremos? O que nos tornaremos no futuro? Serão todas essas
mudanças, benéficas? Acreditamos que sim, tenho certeza. Mas não podemos ter
certeza de nada.
E tudo isso, Hans, é para que
você entenda que nem eu mesma entendi como, quando, porquê mudei de ideia sobre
o futuro. Quando comentavam antes, eu repelia a ideia. “Não é pra mim”,
pensava. Mas mudei de ideia sobre tantas coisas – como sair da Saúde, por
exemplo – então por que não mudaria de ideia sobre isso também?
Mas acho estranho, confesso.
Palavras que antes não faziam sentido nenhum, agora são relembradas com a ideia
de que fazem todo o sentido do mundo. Quando começamos a mudar, Hans? E por que
isso me intriga tanto, se durante tanto tempo me considerei uma metamorfose
ambulante? Qual o problema em não estar na linha reta todo tempo, Hans? Se
afinal, sendo linha, chegarei a algum ponto, em algum momento?
Justo eu, que sempre
fui de acreditar, Hans.
Talvez esteja na hora de acreditar em mim.
C.G.
Talvez esteja na hora de acreditar em mim.
C.G.