Templates da Lua

a Remetente
Sabe o Grilo Falante, de Pinóquio? Talvez eu só esteja em busca da minha humanidade, e Hans seja a minha consciência gritando alto. É sempre mais fácil escrever para alguém e se você supor que a pessoa te conhece a tal ponto de compreender suas maiores loucuras e seus piores pensamentos... As palavras correm soltas. Você deveria tentar qualquer dia desses.


Caixa Postal

carollis.tumblr twitter.com/carolliiiiina .facebook.com/carolina.cds

Correspondências

sexta-feira, 29 de julho de 2011

sobre entedimentos musicais tardios

Hans..

 Já não sei dizer se ainda sei sentir, o meu coração já não me pertence, já não quer mais me obedecer. Parece agora estar tão cansado quanto eu, até pensei que era mais por não saber que ainda sou capaz de acreditar. Me sinto tão só e dizem que a solidão até que me cai bem. Às vezes faço planos, às vezes quero ir pra algum país distante, voltar a ser feliz.

Nunca antes essa música fez um sentido tão real para mim. 
Eu a entendo. Entendo de uma forma completa, que não queria entender.
Está chovendo hoje e provavelmente choverá o final de semana inteiro. Eu poderia soar dramática e dizer que combina com meu estado de espírito, mas não... Meus pensamentos não têm sido cinzas ou chuvosos. Pequenos raios de Sol já surgiram prometendo um Agosto melhor por aqui. Eu estou bem. Conversei com ele ontem e hoje. Sim. Amigos, Hans... Acho que finalmente entendi, no final das contas. Sempre seremos amigos. E isso... Isso vale muito.

Não pode chover para sempre,
C.G.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

sobre cativar, diferenças e expectativas

- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida.....Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim... Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...


Hans.
Oi,

Estava refletindo sobre esse diálogo entre a Raposa e o Pequeno Príncipe, principalmente na frase “Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti.” Reparou que a gente gosta de complicar as coisas, Hans? A partir do momento que criamos laços com as pessoas, elas serão partes de nós, o que é injusto. Sim, Hans, é injusto. Porque colocar expectativas em cima de outro ser? Esperamos demais dos outros e eles não tem nada a ver com isso, com nossos sonhos, nossos planos... Você entende? Bom, tenho entendido muito disso, ultimamente.

Mas hoje eu ainda não senti falta dele. Não sinto falta dele, na verdade... Sinto falta do futuro que eu queria ter tido com ele, sim, mas não dele...

A cada dia que passa – e eles têm passado tão devagar, Hans – percebo mais o quão diferente nós somos –  ele é viciado em vídeo-game, Hans! Não, tudo bem, eu saberia lidar com o vídeo-game, na verdade eu até gosto de jogar... Mas... Ele tem vinte e seis anos, não catorze! E ele arrota na frente dos outros e faz eu me sentir tão fresca por não gostar disso, entende? Ele faz com que eu me sinta mal por não gostar das coisas que ele faz. Hans, eu NÃO SOU fresca. Assim como também não sou alguém sem atitude ou iniciativa, mas ele faz com que eu me sinta assim, completamente perdida. - e que realmente esse futuro que tanto sinto falta seria desastroso. Acabaria em divórcio, Hans, te juro que acabaria. Mas eu gosto de insistir em coisas quebradas, não é? Quem sabe com o tempo isso mude, mas ainda não estou planejando. Ainda não.

Se bem que, aaah Hans... Como eu gostaria de pular uns bons dez anos e ver no que essa vida vai dar, afinal... Poderia ser perigoso, já que eu poderia me ver na mesma cidade, solteira, e morando com meus pais... Suicídio na certa. É, você tem razão, tem coisa que é melhor não saber com antecedência.

Ah. Sonhei com ele, essa noite que passou. Não acha injusto? Meu inconsciente gosta de me fazer sofrer, ao que parece. Afinal, porque me fazer sonhar com uma pessoa que não faz mais parte da minha vida? Não me diga que tenho pensado muito nele, porque não tenho. Tem tanto homem por aí – soei feminista, não? – que eu poderia sonhar... Mas futuro é que tá em falta, mas tudo bem, não estou planejando.

Hans, me diga, como você acha que seria a vida se eu apenas respirasse e esperasse as coisas ‘virem’ até mim? Não se preocupe, estou fazendo isso agora, mas logo logo estarei planejando novamente. Respire, Hans. Mas devaneie comigo sobre esse modo de viver, sem sonhar, sem planejar, só deixando tudo acontecer e o Universo guiar o caminho... Será que seria mais fácil? Sim, sim, eu acredito que o Universo guia o caminho, mas eu penso que também tenho minha responsabilidade nisso, entende? Tudo bem que talvez eu mais atrapalhe do que ajude, mas pelo menos estou participando de forma ativa na minha vida, não? Não? OK. Mas você entendeu o que eu quis dizer? Viver sem planejar e sem esperar NADA da vida, Hans! Que mágico! Que indiferença para com tudo, imagine? Deve ser incrível... Porque se você não espera nada, se suas expectativas são nulas, tudo que vier, tudo que chegar... É lucro.

Problema é que eu espero demais. Planejo demais. Sonho demais. E me ferro demais, também.

Eu lembro quando vi ele pela primeira vez, Hans. Lembro que passei mal aquela semana inteira, porque não queria, achava que seria um desastre – Porque normalmente quando eu estou frente a frente com uma pessoa eu me transformo, eu me calo, eu não sei lidar com a situação, é complicado, acredite, mas falarei mais disso em outra carta, prometo - Expectativas negativas, entende? Eu esperava um final de semana desastroso e foi mágico, Hans. Queria aquilo de volta, o não-esperar-nada e assim ser surpreendida-com-muito.

Aonde compro mais dessas expectativas-negativas? Estou precisando de uma dose cavalar, para o futuro.


Até breve,
C.G.






quarta-feira, 27 de julho de 2011

sobre cinzas e futuros

Hans, Hans, Hans.
Querido Hans.

(Sim, eu sei que você está pensando agora porque eu te chamei de querido, sendo que eu mesma detesto essa palavra e ser chamada por ela, mas me entenda: esta é uma carta, minha primeira carta de muitas que devem chegar, acredite, queria fazer bonito.)

Há quanto tempo te conheço, Hans? Meados de dois mil e nove, talvez? Pois então, você me foi ‘apresentado’ e eu não entendi o que aquilo queria dizer, o que suas palavras queriam dizer, o que queriam me dizer através das suas palavras, melhor.

Hans, me desculpe, mas você terá que me aturar diariamente agora, é um tipo de terapia, tudo bem? Você nem mesmo precisa ler essas cartas, apenas as jogue fora: Não as mande de volta, por favor. Me sinto tola escrevendo para você, mas vamos superar isso. Sem gracinhas. Enfim, o conteúdo da carta... Porque é tão difícil, afinal? Eu costumava escrever cartas quando era pequena, cartas póstumas principalmente – sim, sempre fui dramática – mas queimei todas no final de dois mil e nove. Sim, muita coisa virou cinza em dois mil e nove, eu sei Hans, eu sei. Mas é sobre isso que preciso falar, entende? As cinzas.

Como eu disse, muita coisa virou cinza naquele ano, mas eu não percebi isso, foi mais um ato impulsivo da minha parte e de repente eu já tinha queimado algo importante... Mas não quis acreditar, então deixei o tempo passar como se assim o mal fosse desfeito, e acreditei realmente nisso, que de alguma forma aquilo ressurgiria das cinzas... Tola, eu sei Hans, não precisa me dizer o que eu já sei. Acontece que agora eu vi as cinzas, elas estão por toda parte e eu não sei lidar com elas. As enxergo, é fato, mas não quero enxergá-las. Elas nunca vão sumir, Hans? Se sumissem talvez eu conseguisse seguir em frente... Esquecer, sabe? Preciso mesmo esquecer. Ou talvez eu não deva, o que você acha? Se elas ficarem impregnadas em mim eu vou lembrar e agir de forma mais prudente quando algo parecido acontecer de novo, não? Mas não sei se quero que algo parecido ocorra de novo, Hans. Machuca tanto. E eu tenho tentado ser forte, na verdade até superei minhas expectativas... Mas não tem sido tão fácil assim, não todo tempo.

Como as pessoas conseguem deixar para trás essas coisas de uma hora para outra? Talvez não se importem tanto, é verdade. Também não queria me importar, Hans. “Mas você se importa” sim, sim, eu sei que não adianta querer algo que não se pode ter, no final aprendi a lição. Não foi de uma maneira fácil... Porque tenho que ser sempre tão otimista-teimosa, Hans? Meu otimismo é teimoso demais, me fazendo acreditar que o futuro pode sempre ser melhor. Não venha me dizer que o futuro pode realmente ser melhor porque nesse momento eu só vejo as cinzas. Me diga amanhã, mas hoje não. Não quero pensar no futuro – vê? A coisa está séria, logo eu que sempre vivi mais o amanhã do que o hoje – e no que ele me trará, porque tenho medo disso. Eu vi nas cinzas o que ele não me trará, Hans.

E isso tem doído em mim de uma forma que nunca doeu antes, porque eu nunca acreditei que esse futuro fosse possível, não esse...

O que faço agora? Como viver um futuro que não aceito e me nego a acreditar que me pertence? As cinzas, sim... Não devo ignorá-lo como ignorei as cinzas, você diz. Quem dera fosse mais fácil.



Até amanhã,
Obrigada por tudo.
C.G.