Me peguei hoje pensando que não
quero mais viver nesse mundo, Hans. Não é literal, você sabe – penso demais nos
outros, aquela parcela importante e que não quero absolutamente nenhum mal ou
tristeza. Mas sabe quando você vê – e lê – coisas tão absurdas, que se pega
pensando o que está fazendo aqui? Você sabe que tenho um pé no espiritismo -
não vejo a necessidade do rótulo, mas aqui acho importante para você entender
meu ponto – e com isso me pego pensando por que estou aqui, sabe? Escolhi essa
geração, essa parte da história da humanidade. E foi uma péssima escolha de
mundo. Poderia ser pior, bem sei. Até que escolhi – não sei se ao acaso, mas dá
pra acreditar em acaso? – alguns privilégios. Por outro lado: Deveria ter
privilégio? Claro que não. Mas nesse ponto da história da humanidade ainda
existem esses tais privilégios. E vim com alguns deles.
Minha mãe costuma dizer que a Vovó Velha dizia que a humanidade
chegaria num ponto em que ninguém mais se entenderia. Estamos quase lá, não
estamos? Tem gente espetando agulhas – com sabe-se lá o quê – nas pessoas por
aí, Hans! Tem gente violentando crianças de dois anos. DOIS ANOS! Ninguém mais
tem respeito por ninguém. Ou
vergonha-na-cara.
Estou cansada. Estou triste,
também. Ontem Domingos se afogou num rio, e isso me entristeceu de uma maneira
que estou a ponto de chorar. Me peguei pensando em seu desespero, na luta por
fôlego, no pensamento com os filhos, a esposa. Ninguém quer realmente morrer,
Hans. Ainda não chegamos nesse ponto de evolução onde a Morte possa ser apenas
uma viagem.
Você vê a contradição aqui? O
mundo está um caos, mas não queremos morrer. Talvez ainda reste alguma
esperança, apesar que a minha se encontra mais no Ápice de 2036, confesso.
Eu não quero mais viver nesse mundo, Hans.
Então está na hora de começar a construir um
melhor.
Pelos Domingos que foram cedo demais;
Pelos Domingos que foram cedo demais;
Por seus filhos, nossas crianças.
C.G.
C.G.