Sabe, Hans... Desde que comecei a escrever essas cartas, passamos por muitos sentimentos, não? Passei. E confesso - acredito que você tenha lido nas entrelinhas - senti um medo danado quando deixei de lembrar de tudo que era bom, a respeito dele. Uma parte de mim não conseguia entender como era possível não lembrar. "Meu coração é tão tosco e tão pobre, não sabe ainda os caminhos do mundo.", cantou Renato, e eu só fui entender isso hoje.
Eu precisava, não é? Precisava esquecer tudo de bom que aconteceu entre a gente para finalmente seguir em frente. Não teria como, se as lembranças boas continuassem fartas na minha memória... Entendi.
E hoje, hoje tive aquele sentimento bom de volta. EU LEMBRO! Eu lembro das risadas, dos sorrisos. Também lembro das lágrimas e da angústia, mas ainda assim: O que é bom, ficou. E estou feliz por isso, em saber que os últimos quatro anos não se tornaram apenas lembranças amargas. Houve amor. E eu lembro dele. Só não o sinto mais. Ou talvez o sinta - uma parte da gente continua amando sempre, será? "Eu amo você, mas não sei o que isso quer dizer."
Não importa, no final das contas. Não é algo que possa ser revivido, então não se preocupe. A carta é somente pra contar a novidade: Estou feliz. Depois de muito tempo, me sinto completamente feliz, e só guardo boas lembranças aqui dentro em relação ao nosso monstro. OK, não só as boas, mas você entendeu o ponto: Sempre lembrarei das boas, as ruins são só para manter o coração esperto, por via das dúvidas.
Obrigada por estar comigo nisso.
C.G.